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| Hugo "Boy" é do time de amputados da Ponte Foto: Luiz Felipe Longo |
Foi o que aconteceu com Hugo Ricardo Boy quando tinha 17 anos, em 2011. Praticante de caratê na infância, ele passou em teste no Lemense, time da cidade onde morava, e iria disputar sua primeira Copa São Paulo de Futebol Júnior, o mais importante torneio das categorias de base do país. Durante a fase de preparação, no entanto, ele descobriu um tumor ósseo e precisou deixar os gramados. Foram anos de luta pela vida que lhe apresentaram novas perspectivas para retomar o sonho interrompido. Após superar o drama, ele voltou à ativa, agora como meia do time de amputados da Ponte Preta.
- Nos treinamentos, meu joelho começou a doer e inchar. Procurei ajuda médica e depois da realização de exames descobri que estava com um tumor chamado Osteossarcoma, que acomete crianças e adolescentes. Precisei sair do time e não consegui treinar muito com a galera - relembrou o jovem, que atualmente está com 25 anos e é formado em educação física.
- Minha mãe não quis assinar o termo de responsabilidade. Eu estava para fazer 18 anos, então eu mesmo assinei. Tinha muita dor no joelho, não conseguia dormir à noite e tomei a decisão. Foi a melhor coisa que fiz. Depois de amputado é batalhar, porque dificuldade todo mundo tem.
Mas a carreira como jogador teve uma reviravolta no ano passado. Hugo viu postagem em uma rede social a respeito do futebol de amputados e foi apresentado a Maurício Mendes, o Juninho, coordenador do projeto da Ponte Preta. O encontro rendeu um convite para um amistoso.
- Quando eu cheguei para ver como jogavam, todo mundo de muleta, eu não coloquei muita fé, falei: “não vai sair muita coisa daqui”. A galera correndo, eu olhei e falei: “se eles fazem, por que eu não posso?”. Sempre fui ligado ao esporte, fazia caratê, então tinha um certo equilíbrio e a adaptação não foi tão difícil - completou o jovem.
A adaptação realmente foi rápida. Em quase um ano de carreira, Hugo "Boy", como é chamado no meio, se transformou em um dos destaques da Macaca e já tem passagem pela seleção brasileira da categoria.
O projeto
A parceria do time de futebol de amputados com a Ponte Preta começou em 2017, mas foi idealizado há seis anos por Maurício Mendes, o Juninho. Ele nasceu com uma deficiência chamada fêmur esquerdo curto congênito e viu na modalidade a chance de praticar esporte.
Hoje, é um dos principais nomes da categoria no país, tanto que foi convocado para defender a seleção brasileira na Copa do Mundo, entre 23 de outubro e 5 de novembro, no México.
- É a realização de um sonho na questão de você superar seus limites, todas aquelas palavras negativas, as piadinhas, e você usa isso a seu favor e coloca em prática. Além de realizar o meu sonho, que é ser jogador de futebol, hoje eu consigo realizar o sonho do resto do pessoal, afirmou o meia.
Juninho, além de jogador, também é coordenador no projeto, assim como Willian Leite, responsável pela parte burocrática, e César Augusto Gonçalves da Costa, treinador da equipe. Os dois últimos estão há cerca de um ano e ajudam sem receber qualquer tipo de compensação financeira. Na última sexta, a equipe treinou pela primeira vez no Estádio Moisés Lucarelli, em uma iniciativa inédita no cenário nacional.
- O pagamento é emocional, não tem pagamento melhor que esse, é tudo feito de maneira voluntária. Você muda muito, toda uma percepção de vida. Você aprende que uma derrota não é na verdade uma derrota - explica Willian.
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| Willian (à esquerda) e Juninho (à direita) são dois dos coordenadores do projeto Foto: Luiz Felipe Longo |
Falta de patrocinadores
Em países da Europa, o futebol de amputados é bastante popular. Na Inglaterra, Manchester City, Arsenal e Everton possuem times na modalidade, enquanto na Turquia o esporte é até mesmo transmitido ao vivo em televisão aberta. Só que no Brasil a situação é diferente.
No time da Ponte, a parceria permite que seja usado o nome e os uniformes. Custos com viagens e outras despesas são pagos graças à venda de rifas e adesivos, e muitas vezes com dinheiro tirado do próprio bolso dos jogadores e de doações.
- Estamos em busca de patrocinadores e empresários que queiram abraçar o projeto. Todo mundo acha bonito, aí na hora de ajudar não é mais tão bonito assim. Muitos atletas não conseguem vir treinar porque a gente não consegue dar suporte. Meu sonho é que nosso time consiga, pelo menos, bancar as despesas dos atletas - finalizou Juninho.
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