domingo, 13 de maio de 2018

Fake news são preocupação para eleições presidenciais no Brasil

Por Luiz Felipe Longo

A ameaça das fake news, chamadas notícias falsas, fez com que dois dos principais partidos políticos do país, responsáveis por emplacar os primeiros colocados nas últimas seis eleições presidenciais, o PT (Partido dos Trabalhadores) e o PSDB (Partido da Social Democracia Brasileira), adotassem medidas para tentar coibir a propagação de informações inverídicas a respeito dos candidatos. 


Paulo Rogério Sabioni, presidente dos Tucanos em Campinas-SP, explicou que os candidatos do partido contrataram empresas para realizar serviços de clipagem durante o período eleitoral. Caso identificada a informação inverídica, há o combate imediato com uma pronta-resposta. É feita uma denúncia e há a propagação da informação correta. “As fake news são muito perigosas na internet. Um simples ‘enter’ atinge milhares de pessoas. Não basta apenas postar uma notícia verdadeira, porque a falsa ganha repercussão maior”. 



O PT adotou estratégia semelhante, conforme revelou o pré-candidato a deputado estadual pelo partido, Renato Simões. Ele afirmou que a pronta-resposta é uma das três medidas para frear o compartilhamento de fake news. Foi criada organização em conjunto entre as redes sociais e assessoria de imprensa para estarem preparados caso seja necessário combate imediato. Os outros métodos utilizados foram a reorganização da assessoria jurídica com estudos de temas associados às falsas informações como direito de resposta, calúnia, difamação e injúria, e a luta pela democratização da comunicação. “Quanto mais transparente e plural for a mídia, maior a garantia de que existirá uma diversidade de opiniões e de posições políticas que permitirão rapidamente desmontar as informações falsas”.


Renato Simões cumpriu mandato como deputado estadual
de 1995 a 2007. Foto: Luiz Felipe Longo
O MIT (Instituto de Tecnologia de Massachusetts - link em Inglês), nos Estados Unidos, ajudou a documentar a afirmação do mandatário do PSDB campineiro através de publicado no começo de março. Segundo a pesquisa, que teve como foco as publicações feitas no Twitter por contas de usuários norte-americanos, as informações falsas ganham espaço na internet com maior facilidade e abrangência em relação às verdadeiras. O cientista político Vitor Barletta Machado explica que a maioria das pessoas que fazem parte das redes sociais não confiam nas informações contidas, porém as compartilham. Em alguns casos por desconhecimento da inverdade e em outros porque não estão interessadas em fazer a verificação. “Chega uma fake news de uma pessoa que não gosta, você pode até imaginar que é falsa, mas compartilha. O processo vai se alimentando. Muitas vezes se perde tempo tentando descontruir o fato, e é isso que a fake news quer, que você perca tempo com o estrago sendo feito”. 

As fake news estiveram presentes em 2016 nas eleições dos Estados Unidos, onde o site BuzzFeed (link em Inglês) concluiu que elas possuíram um alcance maior que os grandes grupos de comunicação, como The New York Times (link em Inglês), Washington Post (link em Inglês) e NBC News (link em Inglês). Fizeram parte da corrida presidencial na França um ano depois e devem estar no Brasil antes e durante as eleições, marcadas para 7 de outubro. Elas são usadas para desmoralizar, enganar e propagar informações inverídicas a respeito dos candidatos, apresentando um viés não somente político, mas também econômico e utilizam da instantaneidade e imediatismo da internet como aliados no processo.

No entanto, esse não é um fenômeno recente. O cientista político Vitor Barletta Machado afirmou que as notícias falsas são historicamente produzidas no Brasil, mas que foram potencializadas por conta das novas tecnologias e da internet. “Na própria transição do Império para a República você tem uma fake news que estimulou Deodoro da Fonseca a sair da cama e proclamar a república”.

 

Uso de novas tecnologias nas eleições

A reforma eleitoral de 2017, através da Lei 13.488, permitiu o uso de maneira mais ampla de ferramentas que podem ser encontradas na internet e tenham como objetivo aumentar a propaganda eleitoral e impulsionar postagens dos candidatos e partidos políticos. É uma estratégia que pode ser adotada pelos políticos, já que um estudo da eMarketer (link em Inglês), empresa especializada em pesquisas de mercado sobre mídias sociais, estimou que em 2018 haveria 100,6 milhões de usuários mensais ativos no Brasil, ou seja, pessoas que acessam as redes sociais pelo menos uma vez ao mês. Porém, não só aumenta a campanha eleitoral, como pode levar à presença maior das fake news no processo eleitoral, conforme explica Machado, de que a internet foi responsável por hiperdimensionar a propagação das informações mentirosas devido ao acesso ‘fácil’ e ‘imediato’.


Para o presidente do PT em Campinas, Durval de Carvalho, as redes sociais são onde se circula a maior quantidade de informações falsas, pois todos têm a capacidade de produzir e consumir conteúdo. Entretanto, elas não são as únicas disseminadoras, segundo ele, pois a ‘grande mídia’ também faz parte do fenômeno citando como exemplos o debate presidencial entre Fernando Collor e Lula em 1989, e todo o processo que culminou com o impeachment da então presidente Dilma Rousseff em 2016. “São fake news das mais criminosas. Quando você permite que um órgão de imprensa chegue a esse grau de manipulação, ela está liberando a fake news”.

 

Projetos de lei buscam combater fake news

Há uma série de projetos de lei que possuem como tema central as fake news. Um deles, de autoria do deputado Luiz Carlos Hauly, do PSDB, prevê multa de R$50 milhões para empresa de internet dona de rede social que não apagar notícias falsas publicadas pelos usuários. Em outro, do deputado Carlos Sampaio, também do PSDB, há o aumento na pena de quem propagada injúrias, calúnias, difamações ou inverdades em redes sociais com finalidades eleitorais. As penas variam entre um e cinco anos de reclusão, além de multa que pode chegar a R$2 milhões.


Sampaio diz acreditar que a fiscalização e punição aos responsáveis pelo compartilhamento de informações falsas seja a maneira correta de combater e reduzir a geração de conteúdos no tipo. No entanto, para o deputado, é preciso que o cidadão apure e não compartilhe qualquer matéria que tenha informações consideradas suspeitas. “Há práticas que ajudam nessa verificação, como checar a fonte, apurar, ver se a matéria é assinada e verificar se ela foi publicada em grandes e importantes portais”.


Preocupação para o TSE e empresas


As fake news são uma preocupação para o TSE (Tribunal Superior Eleitoral), que montou o Conselho Consultivo que contará com a participação de Ministério Público e Polícia Federal. Ele tem o objetivo de se antecipar a disseminação de informações falsas por meio de robôs e procurar coibi-las. Preocupação essa perceptível nas grandes empresas de redes sociais, como o Facebook, que anunciou em janeiro o apoio a dois projetos no Brasil para ajudar na identificação de notícias falsas na rede, fora outras medidas que haviam sido tomadas como a publicação de um guia contra fake news, mudanças no algoritmo e um botão que permite a contextualização das publicações.



Vitor Barletta Machado é cientista político e professor de
Ciências Sociais na PUC-Campinas. Foto: Luiz Felipe Longo
De acordo com Vitor Barletta Machado, cientista político, as empresas do ramo precisam criar mecanismos que sejam canais de denúncia ágeis para retirar rapidamente de circulação a informação inverídica, enquanto que os partidos políticos necessitam formar setores especializados no tema para ter um acompanhamento. “Chega um momento em que a pessoa não sabe se acredita mais naquilo ou não. Se as pessoas começarem a perder a confiança, o que já está acontecendo, aí vai ser bastante problemático”.

*Produzido para disciplina de 'Laboratório em Jornalismo' (5º semestre)